Nota Histórica 📓

A biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto remonta ao ano de 1825, altura da criação das Régias Escolas de Cirurgia de Lisboa e Porto, a funcionar respetivamente no Hospital de São José e no Hospital de Santo António no ângulo nascente-sul (Alvará de D. João VI de 25 de Junho).

O regulamento da Escola criava uma biblioteca a cargo do porteiro das aulas. Porém, como a verba atribuída à gestão da escola era irrisória, os seus primeiros Professores decidiram com a décima do seu parco ordenado, comprar livros para a biblioteca. Assim, quando em 1836, a Real Escola de Cirurgia do Porto passa a Escola Médico-Cirúrgica contava a biblioteca 221 volumes. O regulamento da Escola Médica, criava então uma biblioteca que deveria conter “uma coleção, a mais completa possível de livros, estampas e jornais de Medicina e Sciencias acessorias, preferindo-se possuir aquellas edições, que por mais modernas, ou por outras considerações se tornem mais importantes”. Por isso, o Conselho Escolar, dos fundos que tivesse à sua disposição, destinaria todos os anos uma quantia para compra de livros, estampas e jornais.
A biblioteca foi enriquecendo o seu fundo bibliográfico por meio de compras e de ofertas, mas o que lhe deu grande impulso foi a incorporação de cerca de 2000 volumes que pertenciam às livrarias dos Conventos de Coimbra e Porto, extintos pelo governo liberal. Foram então doados livros que tinham por objeto a Medicina, Cirurgia, História Natural, Física, Química e outras ciências afins. Ao longo dos anos a Escola foi catalogando os seus livros. Em 1839 estava organizado um “Inventário da Livraria” que seria no entender do Prof. Pires de Lima um manuscrito encarnado com folhas, algumas das quais já desaparecidas em 1910.

Joaquim Guilherme Gomes Coelho
Joaquim Guilherme Gomes Coelho
(Júlio Dinis)1839-1871
Médico, escritor e professor

É curioso notar que em 1868, o Prof. Gomes Coelho (Júlio Dinis), então bibliotecário por ser Lente-Secretário, segundo o regulamento da Escola, pediu autorização para regulamentar os serviços da biblioteca no sentido de evitar o extravio de livros, pois, retirados facilmente pelos leitores, “nem sempre voltavam com a mesma facilidade”. Apesar de alguns extravios, o número de volumes foi aumentando, concorrendo também algumas ofertas valiosas salientando as das irmãs do Prof. Assis (158 volumes de teses de Paris), as do Prof. Carlos Lopes e sobretudo as do Prof. Gouveia Osório (1887) que muito vieram enriquecer a coleção dos clássicos médicos portugueses.

No decorrer dos tempos, muitos outros legados deram entrada na biblioteca a par das obras adquiridas, ou por requisição direta dos Professores ou por intermédio de uma Comissão especial constituída por 3 professores. Esta Comissão durou uns anos passando-se depois ao regime de requisição.
Ao longo dos tempos os Professores desta Escola sempre se bateram pelo crescimento das coleções da Biblioteca, conservação e sua inventariação. Quando a Escola Médico-Cirúrgica abandona as instalações exíguas do Hospital de Santo António e se muda para a cerca do Carmo em 1885 (Edifício Antigo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar) a biblioteca possuía já cerca de 8 mil volumes. Aqui, nestas instalações dispunha de uma dependência perfeita, que com o correr dos tempos se tornou igualmente insuficiente. Quando o Prof. Pires de Lima em 1907 foi nomeado bibliotecário contava a biblioteca 10.500 volumes. O seu catálogo publicado em 1910 referia já 12.277 volumes.

Joaquim Pires de Lima
Joaquim Pires de Lima
1886-1966
Médico, botânico, professor universitário e etnógrafo

Em 1925 tinha a biblioteca 25.000 volumes. Durante 40 anos (1907-1947) o Prof. Pires de Lima exerceu devotadamente as suas funções de bibliotecário e triplicou o número de volumes da biblioteca.
Para além dos legados citados no Anuário da Faculdade de Medicina do Porto (1919-1927), página 387, são de realçar, por mais significativos, os dos Professor Doutor Pires de Lima, Professor Doutor Hernâni Monteiro, Professor Doutor Rocha Pereira, Dr. Paulino Ferreira, Dr. Arlindo Monteiro, as ofertas dos Serviços Culturais da Embaixada de França, do Instituto Britânico, dos Consulados Alemão e Americano e de várias Instituições culturais, Laboratórios, bem como as publicações que entraram durante anos – de 1940 a 1968 – por permuta com os Arquivos de trabalhos da Faculdade de Medicina do Porto, terminado com o volume 79. Contava então a biblioteca 47.820 volumes.

Em 1951, foi publicado o Catálogo das obras dos séculos XV, XVI, XVII elaborado pela Dra. Maria Elisa Lumiar Ramos, bibliotecária de então.
A partir da década de 70, as ofertas das Instituições referidas foram diminuindo progressivamente o que veio a afetar o crescimento do nosso acervo bibliográfico. Em 1978, a biblioteca tinha 56 mil volumes, em 1988 – 61.068 volumes, em 1997 – 66.665 volumes. Em 2008 – 84 210 volumes.
Esporadicamente, a Biblioteca recebeu algumas publicações da UP, OMS, dos Laboratórios Bial, da Fundação Engº António de Almeida, bem como alguns livros oferecidos por autores médicos. Há a salientar, em 1992, a doação do Prof. Silva Pinto: 32 livros do Século XVIII, 14 do Século XIX e 15 do Século XX.
Presentemente as aquisições da biblioteca, traduzem-se nas atualizações essenciais para as áreas curriculares do Curso de Mestrado Integrado em Medicina da FMUP e na compra de publicações recomendadas pelos Regentes das respetivas áreas curriculares.
Aos poucos, os periódicos, com a colaboração da Reitoria, têm vindo a ser disponibilizados em formato online. A biblioteca participou ainda do Consórcio da Rede da UP, beneficiando da sua Biblioteca eletrónica.

Hernâni Bastos Monteiro
Hernâni Bastos Monteiro
1891-1963
Médico, professor universitário e escritor

Quando a Escola Médico-Cirúrgica passou a Faculdade de Medicina em 1911, ainda se encontrava na cerca do Carmo permanecendo neste local até à inauguração do Hospital de S. João, em 24 de Junho de 1959. Dotado este estabelecimento de Estatuto de Hospital Universitário, a Faculdade de Medicina detém instalações próprias e ensino clínico próprio, reservando, na altura, uma área para a Biblioteca que ficava distribuída pelo Piso 6 e Piso 02.
Atualmente a Biblioteca Central da FMUP encontra-se localizada no complexo de edifícios que integra o CIM – Centro de Investigação Médica – que foi inaugurado em 2012 por sua Exª o Senhor Presidente da República Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva.
Com esta mudança a biblioteca ficou beneficiada com amplas e modernas instalações, o que proporcionou um aumento significativo da afluência de utilizadores.
Ocupa 2 pisos do edifício central do CIM, compreendendo sala de leitura e consulta no piso 1 com cerca de 400 lugares sentados, gabinetes técnicos e uma área de reservados situada no piso 01. Possui ainda uma sala reservada para o Fundo Antigo.