Moisão, Cristina – A arte das mãos: cirurgias e cirurgiões em Portugal durante os séculos XII a XV. Lisboa: Centro de Estudos Históricos, Universidade Nova de Lisboa, 2018. ISBN 978-989-54304-0-6
Trata-se de um estudo sobre o exercício da Cirurgia e os Cirurgiões portugueses, num extenso período desde o início da nacionalidade até ao século XV que nos oferece um conjunto de conclusões muito interessantes e nada lineares, como à primeira vista poderia parecer, tratando-se de um trabalho de índole histórica.
É interessante verificar que mais do que aspetos técnicos e/ou quantitativos, o presente trabalho é uma tentativa muito bem conseguida de apresentar os Cirurgiões e a profissão que exercem dentro de um quadro social muito mais vasto, afastando-se para isso de um certo pendor narrativo há muito instalado, não só na perceção pública sobre a evolução da arte cirúrgica e de quem dela se ia ocupando ao longo do tempo, como de algumas ideias há muito cristalizadas no meio académico.
Assim vemos dissolver-se a tradicional narrativa, estrutural em História da Medicina, que erigiu e ainda mantém de pé a tríade operativa Cirurgiões/Barbeiros/Sangradores, que deve a sua longevidade, talvez a uma necessidade de contrastar e realçar os progressos obtidos pelos Cirurgiões durante o Século XX e, simultaneamente, afirmar e legitimar o novo campo científico de onde nasceu a novel especialidade da Anestesiologia Clínica.
Assim, este trabalho mostra que a profissão de Cirurgião em Portugal, desde cedo teve e manteve um enquadramento legal muito semelhante ao dos físicos, sujeito a autorização régia e juramento ético; uma prática quase simultânea da Medicina e da Cirurgia, uma vez que muitos Físicos também foram Cirurgiões; um grande número de Cirurgiões eram letrados ou procuraram sê-lo, sentindo necessidade de aprofundamento dos seus conhecimentos para o exercício da sua profissão que desde cedo sempre esteve ligada ao exercício da Medicina, caindo assim por terra a ideia de haver uma ligação frequente aos barbeiros e sangradores que, afinal, terá sido muito esporádica.
Podemos ainda ficar com uma ideia bastante aproximada dos laços sociais e familiares que uniam um grande número de Cirurgiões e da profícua relação que foram criando com a Corte e com a Aristocracia, ao contrário das relações tensas que sempre mantiveram com o múnus clerical, agravadas pelo facto de cerca de metade deles serem Judeus.
[sinopse Olga Rodrigues]
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